dezembro 02, 2013

Ao Pormenor: Auschwitz, um pesadelo tornado realidade!

Numa das minhas viagens pela europa, tive a oportunidade de conhecer um dos campos de concentração nazis mais famoso do mundo situado na Polónia.
Não é um local agradável de se ver, e de fato muita gente me perguntou o que lá tinha ido fazer se aquilo é um sítio tão horrível! Pois tal como George Santayana disse: "Quem não quer conhecer a História, arrisca-se a vive-la novamente!!"




A trágica História...
Durante a 2ª guerra mundial os campos de concentração, que na sua maioria albergavam judeus, aumentaram consistentemente à medida que novos territórios europeus iam sendo tomados pela Alemanha Nazi. Este foi então o maior campo de concentração de um lote de 45 outros campos satélites. Auschwitz-Birkenau, como assim era denominado este campo, compreendia dois campos: Auschwitz I, onde ficavam as instalações administrativas e Auschwitz-Birkenau II, o campo de extermínio.
Entre 1942 e 1944, foram assassinados cerca de 1,3 milhão de prisioneiros, sendo 90% deles judeus, 150 mil polacos, 23 mil ciganos romenos, 15 mil prisioneiros de guerra soviéticos, cerca de 400 Testemunhas de Jeová e dezenas de milhares de pessoas de diversas nacionalidades. Quem não era executado nas câmaras de gás morria de fome, doenças infeciosas, trabalhos forçados, execuções individuais ou experiências médicas. (1)
Em 27 de janeiro de 1945 os campos foram libertados pelas tropas soviéticas, dia este que é comemorado mundialmente como o Dia Internacional da Lembrança do Holocausto. Em 1947, a Polónia criou um museu no local de Auschwitz I e II e em 2002, a UNESCO declarou oficialmente as ruínas de Auschwitz-Birkenau como Patrimônio da Humanidade. (1)
De entre os cerca de 2 milhões de pessoas (números controversos), judeus, ciganos, homossexuais, prisoneiros de guerra, etc.., apenas 100 mil pessoas aproximadamente saíram do campo, e mesmo a maioria desses não sobreviveu pois encontravam-se seriamente debilitados, chegando a pesar duas vezes menos que no momento da entrada.




Descendo ao inferno!
Para mim a expressão: "Viver o inferno na terra", nunca fez tanto sentido como no dia em que visitei o campo e senti de perto o clima pesado e o cheiro a morte que muitos ainda dizem sentir. Houve momentos em que me senti transportado para aquela era e vesti a pele de todos aqueles seres humanos, mas apenas posso imaginar como eles se sentiram porque na verdade nunca saberei ao certo como foi...
O dia frio e chuvoso que se fazia sentir ajudou a completar o ambiente sinistro, num misto de sentimentos entre a angustia e a sensação de revolta, raiva, nojo, vómitos e até vergonha pelo que aqui se passou há apenas 60 anos atrás.
Logo à entrada, sob um portão de ferro, pode ler-se a frase: "Arbeit macht frei", em português: " O trabalho liberta"... Um lema hipócrita, com certeza para motivar os milhares de prisioneiros que todos os dias saiam por esse portão para voltar após várias horas de trabalho forçado.., os que voltavam, o que não acontecia com todos.
O campo era fortemente vigiado e fugir era praticamente impossível. Para escapar era preciso passar por duas barreiras de arame farpado, patrulhadas por militares armados com ordem para matar e cães raivosos prontos para estraçalhar. No final ainda teriam de subir um muro bem alto com torre de vigia por todo o lado.
Quem tentasse escapar seria fortemente castigado com a pena de morte, tendo o mesmo destino todos aqueles que ajudassem alguém a fugir. Se alguém conseguisse de fato fugir veria a sua família capturada e levada para o mesmo campo onde permaneceriam até que o fugitivo se entregasse.
 A mais espetacular fuga de Auschwitz-Birkenau ocorreu em 20 de junho de 1942, quando três poloneses e um ucraniano fizeram uma fuga ousada. Os quatro escaparam vestidos de guardas SS, armados e num carro oficial, um Steyr 220, roubado do próprio comandante do campo, Rudolph Höss. Os fugitivos levaram com eles um relatório sobre as condições do campo escrito por Witold Pilecki. Nenhum deles jamais foi capturado. (1)
O campo era organizado em vários edifícios cada um com o seu propósito. Hoje em dia esse edifícios foram transformados em museus e cada um tem uma história para contar, desde a chegada do prisioneiro, a vida no campo, processos de seleção e extermínio, experiências médicas, fugas e revoltas, etc...


Num dos edifícios encontra-se retratada a chegada dos prisioneiros. Depois de severamente humilhados, conduzidos entre pontapés e murros pelos corredores dos edifícios, eram depois observados por médicos que os catalogavam consoante a sua raça e condição física. Os considerados inaptos para trabalho seguiam diretamente para as câmaras de gás. Aos que ficavam, eram arrancadas as suas roupas, os seus cabelos cortados e posteriormente eram fotografados. Muitas dessas fotografias cobrem as paredes do edifício. Na reta final quando os campos se encontravam sobrelotados a maioria dos prisioneiros nem passavam por esta fase e iam diretos para a câmara de gás.

Em outros edifícios podemos testemunhar através de documentos e provas materiais as torturas e experiências médicas de que os prisoneiros eram alvo.



Para mim o edifício mais dramático é aquele onde se encontram armazenadas toneladas de cabelo, óculos, próteses, sapatos, roupas e muitos outros objetos pertencentes aos prisioneiros.
Tudo era reciclado. O cabelo servia para encher as almofadas e os colchões do campo, o ferro era reciclado assim como o ouro dos dentes arrancado após o extermínio, e muitos outros pormenores sarcásticos que prefiro nem contar pois é ver para crer!









No ultimo edifício que me lembro de visitar, funcionava como uma espécie de 3 em 1, pois era aí que encarceravam os oficiais das tropas aliadas (inimigas), onde ocorriam os interrogatórios e as sentenças. Normalmente os sentenciados eram executados mesmo ali ao lado num beco contra uma parede.



Auschwitz-Birkenau II, o inferno não acaba!...
Chegou a uma altura em que o campo de Auschwitz se tornou pequeno demais para acolher tanta gente e houve a necessidade de ampliar as instalações e nasceu assim mais um campo de concentração, o campo onde tudo acabava...


Hoje em dia ainda é possível visitar os dormitórios e as latrinas, as câmaras de gás e incineradores foram destruídas pelos nazis já no final da guerra, numa tentativa desesperada de apagar as provas de tão grande massacre. Nesse local existe hoje um memorial em memória das vitimas.
Os dormitórios não são mais do que uns barracões com beliches de madeira onde dormiam 2 ou 3 pessoas por cama, empurrando e lutando entre si por espaço pois não havia muito tempo para dormir. Chegavam a dormir com os sapatos (tamancos) para que não fossem roubados.




As latrinas localizavam-se em estábulos militares concebidos para cavalos e utilizados pelos alemães em campanhas militares, posteriormente adaptados para esse efeito. Quero salientar que cada estábulo onde cabiam 40 cavalos, acomodava 400 prisioneiros, que sem qualquer tipo de privacidade ou higiene, se banhavam em pias e faziam as suas necessidades. Diz-se que o cheiro era insuportável de tal maneira que as portas eram fechadas até que os militares as decidissem abrir novamente. Os prisioneiros tinham apenas direito a ir aos "lavabos" duas vezes por dia, e muitos deles estavam doentes com difteria e outras doenças intestinais. As pessoas faziam o trajeto desde os dormitórios até aos lavabos completamente nus independentemente das condições climatéricas, salientando que no inverno polaco as temperaturas em certas regiões podem chegar a vários graus negativos.
O sentimento à saída era indescritível pelo que termino assim o meu testemunho, sem mais palavras...
(1) Fonte: wikipedia.org/wiki/Auschwitz-Birkenau

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